Bairros nobres são ótimos pra se viver. Mas e para morrer*?
As culturas humanas têm valores simbólicos que variam em cada povo e época. No Brasil, país de grande diversidade étnica, cultural e religiosa, a morte das pessoas ainda é cercada de certos tabus, cuidados e preconceitos, mas eles estão em declínio neste tempo de acesso quase universal à tecnologia da informação e à globalização.
Neste caso, a investigação foi das expectativas e necessidades de um cemitério parque num bairro nobre de capital, com vistas ao lançamento do empreendimento por investidores internacionais. Em 2012, foi estudada a composição etária e por gênero do bairro e da região, a concorrência etc. Mas como o assunto literalmente esbarrava no tema da morte, foi fatal que algumas informações curiosas aflorassem, pois é sabido que os temas ligados à religião, sexo, alimentação e… morte, despertam nos indivíduos a vontade ou o bloqueio de se expressar a respeito.
Desse modo, ficou evidente que a maioria das pessoas acima dos cinqüenta anos já tinha optado por cremação ou ser enterrada em jazigo de algum parente. E as de idade entre 30 e 45 anos é que se apresentaram como público alvo preferencial para a compra de jazigo, tendo a proteção da família como principal argumento, reforçado pela liberdade individual, o ecletismo religioso e de crença dos brasileiros.
O ícone canônico de uma família com pessoas de todas as idades foi o mais referenciado. E, a linguagem recomendada para a comunicação foi a da sobriedade, sem ser triste ou ter conotações mórbidas, que lembrassem finitude. Ao contrário dos cemitérios góticos que têm como cores dominantes o preto e o cinza, o verde é a cor dos cemitérios parque, simbolizando o ciclo natural de vida e morte encontrado na natureza, a esperança de lembrança, e a perpetuação espiritual.
A conclusão foi que, o bairro mais moderno, de maior crescimento, e cheio de vida da cidade, estava pronto para acolher os que, mesmo sem querer, teriam que deixá-lo.